domingo, 4 de setembro de 2011

A CRUZADA CONTRA OS ALBIGENSES 1209-1249

Parte 1


No ano 1208 uma Cruzada foi proclamada pela Igreja católica contra a heresia. O principal foco da intervenção era remover o perigo do crescimento do Catarismo no sul da França. Outros movimentos religiosos como o Valdismo foram também combatidos em menor escala nessa ocasião.
Um cruzamento de interesses políticos e religiosos culminou numa longa ação armada contra um grupo numeroso de pessoas que viviam na região do Languedoc onde ficam as cidades de Toulouse, Albi e outras, cuja justificativa foi a heresia; a prática de diferentes pontos de vista dos ensinamentos cristãos. Nesse período da história, esse era um dos crimes mais odiados pela sociedade européia predominantemente católica.O objetivo da Cruzada era erradicar definitivamente a heresia queimando em fogueira as pessoas que a praticavam. Mas não foi uma tarefa fácil.

A referência base para este trabalho é BELPERRON, Pierre. La Croisade contre les albigeois et l’union du Languedoc a la France (1209-1249). Paris, Librairie Académique Perrin, 1967.

O Languedoc até os séculos XII e XIII
A região do Languedoc era ocupada pelos Visigodos até o ano 715 quando os Sarracenos os expulsaram para o norte chegando até onde estavam os Francos que vinham invadindo da Gália para o sul. No oeste o progresso dos muçulmanos foi interrompido na batalha de Poitiers no ano 732 por Carlos Martel.

No leste os Sarracenos ocupavam a região de Narbonne e redondezas até que Pepino o Breve tomou a fortaleza expulsando-os no ano 759.O Languedoc não era então parte do reino Franco mas sim do estado Ibérico, primeiramente muçulmano depois cristão. A história da região do Languedoc está conectada diretamente com a história da península Ibérica. A cultura da Espanha islâmica estava muito à frente dos bárbaros Francos. Foi por essa via que o conhecimento antigo penetrou na Europa, alimentando a Renascença. Muitos vestígios hoje lembram a presença muçulmana, incluindo a arquitetura, sistemas de canalização de água, etc. No Languedoc há nomes como o Castelmaur (castelo dos Mouros) e Castelsarrasin (Castelo dos Sarracenos). Talvez um dos maiores legados dos muçulmanos em tempos medievais foi a tolerância religiosa, a tradição da poesia, da música que pode ser reconhecida no surgimento dos trovadores nessa região.A luta pela conquista da península Ibérica aos muçulmanos durou de 1130 a 1481. Nessa região, cristãos locais eram tolerantes com outras religiões, mas as autoridades católicas romanas não o eram. Como exemplo, no ano 1215 o papa Inocêncio III através do 4º concílio de Latrão instituiu o rótulo da vergonha – todos os judeus eram obrigados a vestir símbolos amarelos para se distinguir dos cristãos e foi decretado que os judeus não deveriam ser vistos em público na sexta feira santa. A figura 1 (http://www.midi-france.info/1011_moors.htm) mostra a divisão política da região em 1209.




figura 1







Raymond VI, Conde de Toulouse, nascido em 1156; morto em 1222; sucedeu ao seu pai, Raymond V, em 1195. Ele era um príncipe cético e depravado, que sucessivamente repudiou três esposas. A quarta, Jeanne, era irmã de Ricardo Coração de Leão. Agraciado com todos os benefícios da Igreja, ele contraditoriamente mostrou a maior benevolência aos heréticos Cátaros ou Albigenses, a quem seu pai havia perseguido. Recusou-se a molestá-los e até os permitiu orar diante dele. Sua corte era devassa e ele acabou não tomando conhecimento da reprovação do enviado de Inocêncio III, Pierre de Castelnau, que finalmente o excomungou em 1207. Pouco depois, porém, um cavaleiro do conde matou de Castelnau, Raymond foi imediatamente deposto pelo Papa. Atemorizado, caiu em submissão ao papa, expulsou os heréticos de seus domínios, e, em 18 de junho de 1209, na presença do representante pontifício, fez a penitência pública defronte a Igreja de St. Gilles. Quando os cruzados, reunidos no norte da França, invadiram o Languedoc, Raymond tomou parte na Cruzada e assistiu aos portões de Béziers e Carcassonne em 1209. Retornando a Toulouse, Raymond tentou se livrar de suas obrigações com a Igreja e foi novamente excomungado pelo Conselho de Avignon. Ele foi então a Roma para ser perdoado pelo assassinato de Castelnau onde foi recebido por Inocêncio III. No retorno porém, encontrou suas terras inteiramente sob o comando de Simon de Montfort. Em 1212 ele tinha apenas Toulouse e Montauban. Seu cunhado, Pedro, Rei de Aragon, veio em seu auxílio, mas foi morto na batalha de Murat em 1213. Em 1215, Simon de Montfort sitiou Toulouse e Narbonne. Ao invest de organizer resistência, Raymond negociou com o enviado do Papa, que fez a mais humilhate das propostas. Destituído de suas posses ele se retirou para a Inglaterra. Posteriormente compareceu ao Conselho de Latrão (1215), onde se esforçou para obter a intervenção de Inocêncio III em seu favor. O Papa, porém, cedeu os territórios a Simon de Montfort, reservando para o filho de Raymond apenas os Marquesados de Provence e Beaucaire. Em exílio em Aragon, Raymond VI reagrupou suas tropas e retomou Toulouse em 7 de novembro de 1217. Simon de Montfort agrupando um grupo menor de cruzados tentou reaver Toulouse mas foi morto em 25 de junho de 1218. Antes de sua morte Raymond VI retomou de Amaury de Montfort todas as conquistas que seu pai havia feito. (fonte: http://www.newadvent.org/cathen/12670a.htm)



Figura 2 - Estátua representando Simon de Montfort, falecido em batalha por Toulouse sob uma bola atirada por uma catapulta acionada por mulheres de Toulouse. (lescathares.free.fr/images/montfort.JPG)






Figura 3 - Moeda cunhada com figura representando Raymond VI Conde de Toulouse (perso.numericable.fr/.../sceau/raymond6.gif)

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