A
partir de Calvino, outros chamados calvinistas vão surgir cada vez mais
fortalecendo essa doutrina, nomes como Ponet e Goodman darão respostas e
definindo a postura mediante a tirania das autoridades. John Knox, outro
teólogo reformado e bem radical, acrescenta alguns argumentos na teoria de
resistência, como por exemplo, a questão do estrangeiro jamais ser escolhido
pelos irmãos para ser uma autoridade. Nota-se a preocupação em manter a
resistência colocada como sendo as leis de Deus e a verdadeira fé sendo a dos
calvinistas, fator determinante na identidade e que como conseqüência forma no
coletivo das pessoas o direito de resistir fundamental.
Permito-me
registrar aqui os conflitos que isso gerou nas regiões em que a resistência
calvinista era levantada. Somando a corrente luterana, a resistência da reforma
causará um conflito religioso dividindo e definindo cada vez mais essas duas
correntes cristãs: católicos e protestantes. Skinner nos lembra da revolução
huguenote[1] na
França. Outro exemplo mais radical seria os puritanos ou calvinistas da Holanda
e Inglaterra que partirão para o combate em defesa da verdadeira fé na ótica
deles.
Teoria
de resistência e toda sua argumentação política foram sem duvida marcas da
cidade de Genebra. A legitimação e força que os pastores tiveram,
principalmente no período em que Calvino conquistara seu espaço mediante as
questões políticas envolvendo Genebra, como também a sua contribuição para o
ensino sistemático de sua doutrina que, sem dúvida, teve um papel de grande
destaque para a autonomia das questões da igreja reformada. Outros pontos
envolvendo questões socias como, por exemplo, a reafirmação dos burgueses
perante a sociedade, principalmente os vindos da França, inserindo-os assim no
contexto social em que Genebra se configurava.
A
partir de 1555[2],
os anos para Calvino em Genebra se tranqüilizavam à medida que a assimilação
dos seus ensinamentos ia acontecendo, mas polêmicas o acompanhavam
constantemente até o final. Percebendo que o fim de sua vida se aproximava, fez
questão de registrar seus últimos conselhos aos pastores de Genebra,
encorajando-os a permanecer na doutrina e não fazer mudanças ou inovações.
Outro ponto marcante no fim de sua vida, foi o desejo de que em seu túmulo não
fosse registrado nada que o lembrasse. Parece-nos uma preocupação com o que
fariam com seu tumulo, pois tinha uma postura radical em relação ao que era
feito com os túmulos dos mártires católicos. Fez questão de não deixar marcas
onde fora enterrado.
Sobre
Genebra, embora viessem falando dos sucessos que a doutrina calvinista trouxe,
devemos registrar alguns fracassos que ocorreram. A doutrina da ceia de Calvino
acabou não sendo compreendida, sua doutrina da predestinação que apesar do
sucesso incontestável que tivera, foi muito combatida nos séculos posteriores à
sua morte, fator que levou aos calvinistas a tomarem posturas equilibradas
mediante as questões da predestinação ou eleição. Mas o que marcou mesmo o
período posterior ao falecimento de Calvino foi a incapacidade de manter a
autonomia da igreja em Genebra. Algo que seria tarefa difícil de sustentar,
pois vemos que com a passagem do século XVI para o XVII e
futuramente para o XVIII mudanças consideráveis na sociedade tiveram um papel
fundamental para isso. Podemos dizer, por exemplo, que o surgimento do Estado
Absolutista em algumas regiões, apesar da singularidade de organização política
em Genebra e que não participou efetivamente do Absolutismo, causa efeitos na
mentalidade e encontram espaços para influenciar mesmo que indiretamente as
questões políticas de organização em Genebra. Outro ponto sobre a perda do
espaço autônomo da igreja conquistado pelas idéias calvinistas, foi o enfraquecimento
dos pastores somado à falta de recurso que os mesmos se encontravam, fazendo
assim com que eles tivessem poucas formas de se opor com eficiência às
autoridades civis.
Porém o
calvinismo na Suíça, em especial em Genebra, deixou marcas de crença na
doutrina, que apesar das mudanças ocorridas por toda a Europa, marcaram o
século XVII, em especial a doutrina da predestinação, que embora muito
criticada, se manteve nas crenças dos seguidores por todo período.
A relação Genebra e João Calvino sem dúvida
trouxe norte para a vida de ambos, como também a contribuição que um deixou na
vida do outro. Genebra leva as marcas de um homem polêmico em toda vida e que
encontrou espaços na cidade para colocar em prática tudo o que acreditara como
sendo a verdadeira fé Cristã. João
Calvino, que precisava de um refúgio para encontrar a maneira que colocaria em
prática tudo que acreditara, viu o sucesso da sua doutrina, algo que a meu ver
ele não esperava acontecer em Genebra. Concluo dizendo mais uma vez que os
acontecimentos na história tanto de Genebra, por passar as fases que passou de
organização política e social, quanto de Calvino que teve suas fases na vida,
parece que no momento certo esse encontro se fez, e que as conseqüências vimos
nesse resumo de influências políticas em que a cidade de refúgio passou e
participou da vida do homem curvado, como era visto por muitos da época, que
lutou por uma igreja não separada do Estado, mas que fosse autônoma para tomar
suas decisões. Essas sem dúvida foram as marcas do legado de João Calvino em
Genebra.
(Texto enviado por Ivatan Holanda - graduando da UFES)
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